segunda-feira, 21 de março de 2016

POEMA URBANO

MARCANDO PARA OS SUBÚRBIOS


Do cerne central
Da grande metrópole,
Onde blocos gigantes
Aos céus se elevam,
E o corpo faz trêmulo,
Quando os olhos contemplam
De encontro ao azul magnífico dos céus,
Os imensos arranha-céus...
Parte pelas ruas e avenidas,
Enroscando-se por dentre assas estruturas
Por um labirinto,
 Rumando aos porões da cidade,
 Rompendo o ventre da gigantesca metrópole,
Desentrincheirando os meandros ainda por vir,
Ninhos de áspides e serpentes...
E ocultando-se quanto mais se vai adiante,
Distanciando-se do cerne de onde se partiu,
Alcança-se enfim habitat desses entes...
São míseras formações,
Que se recolhem de forma turva pelas periferias,
Distantes do centro da cidade.
E o olhar que outrora contemplava os edifícios,
Agora faz fremir o corpo,
E busca-se conter as lágrimas,
Que insistem em escorrer...
De cobras peçonhentas que eram,
Habitando em conjunto agora com outros corpos,
Feito vermes em atoleiros,
Percorrem os caminhos,
Por entre o fervilhar de toda gente.
Na caminhada que se segue,
Recolhem-se estes entes,
Nos morros e vales periféricos,
Como que em virulentos e odiosos ninhos,
Figuras errantes se aglomeram,
E exala o odor fétido da miséria.
E os excrementos escorrem,
Por veios próximos às paupérrimas habitações.
 E assim apodrecem em águas corredias,
Por vezes estagnadas.
E os habitantes que ocupam estes recantos
Trevosos,
Que se o sol recebem é só para clarear e,
Tornar à vista a parte mais asquerosa,
E indesejável,
Daquilo que ainda persiste ser,
A grande metrópole...
E estes habitantes agora,
Erguem aos deuses sua voz,
Em busca de que os ouçam em sua miséria reinante.
Vítimas de doenças e males,
Que os outrora blocos gigantes,
Ficados para trás querem ocultar,
Como em submundos dos porões,
Da urbe...
E os habitantes da metrópole,
Na grande maioria disfarça o terror,
Que os acomete,
Persistindo em esquecer,
Aquele verdadeiro câncer,
Que oblitera a cidade.
Os seres periféricos,
Os áspides e serpentes,
Persistem em sobreviver,
E vez ou outra,
Pelo anoitecer,
Avançam silenciosos,
Saídos de seus ninhos,
E prontos para atacar febris,
De cobras que eram em celerados e ladrões
Transformam-se...
E atacam qualquer habitante,
Da ousada e magnífica metrópole.
E se ergue então aos ouvidos dos deuses,
O praguejar dos legados ao esquecimento,
Bem como dos assaltados pelos que habitam,
Os territórios mais próximos do cerne urbano,
Em coro e infernal orquestra,
Da vasta e gigantesca edificação...
Que como se em uma Babel se constituísse,
E vingança divina exigisse,
Pergunto-me então eu,
Ao azul dos céus elevando os olhos,
Até quando,
Até quando...
Isso tudo persistirá.





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