MEU INESQUECÍVEL AMIGO JOHN
Ora era eu. Ora
era John. Nunca nós dois. Nunca nós ambos. Todo um infinito nos separava. Toda
uma imensidão nos dividia. Jamais ocorreu a mim nem a John que houvesse
comunhão possível em algum lugar para nós. Que
houvesse uma forma de dividir. Uma forma de compartilhar.
O que eu queria,
John desprezava. O que John aceitava eu renegava. Então era assim como se
habitássemos dois mundos diversos.
Talvez o que me
fosse por paraíso, para John fosse inferno. E o que para John era por inferno.
Para mim paraíso era.
Talvez ainda,
vivêssemos como em ilhas distantes num imenso oceano. Cada um ilhado um do
outro. Cada um sem dar-se conta, senhor em sua própria índole de sua própria
solidão.
Só sei que por longa data fomos próximos. De
certo modo companheiros de jornada. E a vida de cada um de nós, partilhamos
juntos por considerável espaço de tempo. Tempo o suficiente para que eu
conhecesse os gostos, os hábitos, os costumes de John e ele os meus.
E por mais que
possa parecer impossível nunca partilhamos se quer uma alegria em comum ou
ainda comungamos nenhuma mesma tristeza. Somente de modo estranho, insondável e
sem hostilidade, convivemos vida afora, não por tão curto espaço de tempo. De
modo que o que juntos vivemos passamos a considerar uma simples amizade.
Conhecemo-nos ao
acaso apresentados por pessoas de nosso círculo de convivência. E pouco tempo
após apertarmos as mãos, já iniciamos a trocar algumas palavras, bem como a
guardar silêncios incomuns no convívio entre duas pessoas.
Morávamos
próximos, de modo que facilmente nos encontrávamos para desfrutar senão da
companhia um do outro, somente da presença física e do silêncio que nos
envolvia.
E acredito que de modo peculiar manter-mo-nos
um na companhia do outro, fez com que nos apegássemos e nos tornássemos habituados
um ao outro.
Pode mesmo até ser
que, justamente por não haver entre nós, qualidades ou defeitos, em comum. Isso
nos tornou de certo modo íntimos e próximos. Respeitando cada um o modo
peculiar de ser do outro.
E então conseguimos
determinar um ponto de intersecção entre nós dois. Entre nossas personalidades
conflitantes. Entre os aspectos marcantes e diferenciados, inclusive de
conceber o que era a vida. O que cada um ambicionava e o que para cada um era
como por esperança para o futuro... Arrebatando assim de nosso convívio também
a possibilidade de confidências, de partilhar possíveis segredos.
Quando de nossos
encontros casuais ou não, saudava-mo-nos com
um aperto de mão. E indagávamos como
haviam sido os dias que permanecemos distantes, e logo em seguida vinham
aqueles longos e quase incômodos prolongados momentos de silêncio. Nos quais
um, porque não dizer em respeito ao outro, suportava sem nunca questionar o que
significava aquilo... Ou a razão de querer-
mo-nos um ao alcance do outro sempre que possível.
E foi assim que
por longa data mantive meu relacionamento com John. Vivendo algo que me deixaria
uma marca profunda. Pois aquilo que defini como amizade entre eu e sua pessoa,
só mais tarde com mais clareza pude perceber, o quanto supriu o meu amigo, e eu
na certa a ele, a possibilidade de um padecimento maior de vida, caso não
tivéssemos um ao outro durante aquele transcurso de nossa existência. Como uma
estação do ano que transcorre no tempo, e logo nos deixa dela saudosos em
relação à estação seguinte.
Tive porque não
admitir, talvez a possibilidade que poucos podem vir a ter, de um
relacionamento ímpar, de uma amizade difícil de ser definida como tal, mas que
não foi nada mais além que uma simples amizade.
Hoje quando volto
ao passado e me recordo daquele convívio com meu amigo, dou-me conta saudoso de
sua pessoa. E de seu modo peculiar de ser. E isso sem entristecer-me... Sem causar
em mim nada senão uma sensação nostálgica de idos passados, de quando era mais
jovem.
Impossível me é
prolongar-me mais nesse relato, pois não me concederia falar aqui da pessoa de
meu amigo. Do que ele em mim despertava, de qualquer qualidade ou defeito seu.
E isso porque me é
caro e precioso, guardar comigo a recordação que dele trago. Daquele rapaz que
de modo estranhamente insondável cruzou meu caminho e eu o dele.
Da parte dele bem o
sei, que algo em semelhança se deu quando de nossa repentina separação. Ou
seja, ele levou consigo uma memória de mim, que jamais será legada fácil também
ao esquecimento.
E assim como
casualmente nos conhecemos, de modo casual, também nos separamos. Ele
simplesmente certo dia por motivo de ter que ausentar-se para longe, veio até
mim e participando sua partida, trocamos um aperto de mão seguido de um abraço.
E o que de forma
singular vivemos, ficou lacrado no passado de cada um de nós, sendo que sei
comigo que jamais na vida encontrarei alguém como John, capaz de proporcionar a mim e eu a ele, um
incontestável e peculiar relacionamento de amizade.
E então leitor eu
lhe afirmo. O que vivi ao lado de John foi, dos relacionamentos que tive em
minha vida um dos mais caros e preciosos. O que se deu entre eu e aquele rapaz
de características tão diversas das minhas, e com o qual nunca dividi nada de
meu, nem ele nada de seu. Conservo em meu coração como uma pedra rara, caída
dos céus como uma joia que com amor e carinho guardo dentro de meu coração.
FIM
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