segunda-feira, 21 de março de 2016

"UM CONTO"

MEU INESQUECÍVEL AMIGO JOHN

     Ora era eu. Ora era John. Nunca nós dois. Nunca nós ambos. Todo um infinito nos separava. Toda uma imensidão nos dividia. Jamais ocorreu a mim nem a John que houvesse comunhão possível em algum lugar para nós.           Que houvesse uma forma de dividir. Uma forma de compartilhar.
     O que eu queria, John desprezava. O que John aceitava eu renegava. Então era assim como se habitássemos dois mundos diversos.
     Talvez o que me fosse por paraíso, para John fosse inferno. E o que para John era por inferno. Para mim paraíso era.
     Talvez ainda, vivêssemos como em ilhas distantes num imenso oceano. Cada um ilhado um do outro. Cada um sem dar-se conta, senhor em sua própria índole de sua própria solidão.
     Só sei que por longa data fomos próximos. De certo modo companheiros de jornada. E a vida de cada um de nós, partilhamos juntos por considerável espaço de tempo. Tempo o suficiente para que eu conhecesse os gostos, os hábitos, os costumes de John e ele os meus.
      E por mais que possa parecer impossível nunca partilhamos se quer uma alegria em comum ou ainda comungamos nenhuma mesma tristeza. Somente de modo estranho, insondável e sem hostilidade, convivemos vida afora, não por tão curto espaço de tempo. De modo que o que juntos vivemos passamos a considerar uma simples amizade.
       Conhecemo-nos ao acaso apresentados por pessoas de nosso círculo de convivência. E pouco tempo após apertarmos as mãos, já iniciamos a trocar algumas palavras, bem como a guardar silêncios incomuns no convívio entre duas pessoas.
      Morávamos próximos, de modo que facilmente nos encontrávamos para desfrutar senão da companhia um do outro, somente da presença física e do silêncio que nos envolvia.
     E acredito que de modo peculiar manter-mo-nos um na companhia do outro, fez com que nos apegássemos e nos tornássemos habituados um ao outro.
     Pode mesmo até ser que, justamente por não haver entre nós, qualidades ou defeitos, em comum. Isso nos tornou de certo modo íntimos e próximos. Respeitando cada um o modo peculiar de ser do outro.
      E então conseguimos determinar um ponto de intersecção entre nós dois. Entre nossas personalidades conflitantes. Entre os aspectos marcantes e diferenciados, inclusive de conceber o que era a vida. O que cada um ambicionava e o que para cada um era como por esperança para o futuro... Arrebatando assim de nosso convívio também a possibilidade de confidências, de partilhar possíveis segredos.
      Quando de nossos encontros casuais ou não, saudava-mo-nos  com um aperto de mão. E indagávamos  como haviam sido os dias que permanecemos distantes, e logo em seguida vinham aqueles longos e quase incômodos prolongados momentos de silêncio. Nos quais um, porque não dizer em respeito ao outro, suportava sem nunca questionar o que significava aquilo... Ou a razão de querer-

mo-nos um ao alcance do outro sempre que possível.
     E foi assim que por longa data mantive meu relacionamento com John. Vivendo algo que me deixaria uma marca profunda. Pois aquilo que defini como amizade entre eu e sua pessoa, só mais tarde com mais clareza pude perceber, o quanto supriu o meu amigo, e eu na certa a ele, a possibilidade de um padecimento maior de vida, caso não tivéssemos um ao outro durante aquele transcurso de nossa existência. Como uma estação do ano que transcorre no tempo, e logo nos deixa dela saudosos em relação à estação seguinte.
      Tive porque não admitir, talvez a possibilidade que poucos podem vir a ter, de um relacionamento ímpar, de uma amizade difícil de ser definida como tal, mas que não foi nada mais além que uma simples amizade.
      Hoje quando volto ao passado e me recordo daquele convívio com meu amigo, dou-me conta saudoso de sua pessoa. E de seu modo peculiar de ser. E isso sem entristecer-me... Sem causar em mim nada senão uma sensação nostálgica de idos passados, de quando era mais jovem.
      Impossível me é prolongar-me mais nesse relato, pois não me concederia falar aqui da pessoa de meu amigo. Do que ele em mim despertava, de qualquer qualidade ou defeito seu.
     E isso porque me é caro e precioso, guardar comigo a recordação que dele trago. Daquele rapaz que de modo estranhamente insondável cruzou meu caminho e eu o dele.
    Da parte dele bem o sei, que algo em semelhança se deu quando de nossa repentina separação. Ou seja, ele levou consigo uma memória de mim, que jamais será legada fácil também ao esquecimento.
     E assim como casualmente nos conhecemos, de modo casual, também nos separamos. Ele simplesmente certo dia por motivo de ter que ausentar-se para longe, veio até mim e participando sua partida, trocamos um aperto de mão seguido de um abraço.
       E o que de forma singular vivemos, ficou lacrado no passado de cada um de nós, sendo que sei comigo que jamais na vida encontrarei alguém como John, capaz de  proporcionar a mim e eu a ele, um incontestável e peculiar relacionamento de amizade.
     E então leitor eu lhe afirmo. O que vivi ao lado de John foi, dos relacionamentos que tive em minha vida um dos mais caros e preciosos. O que se deu entre eu e aquele rapaz de características tão diversas das minhas, e com o qual nunca dividi nada de meu, nem ele nada de seu. Conservo em meu coração como uma pedra rara, caída dos céus como uma joia que com amor e carinho guardo dentro de meu coração.

FIM

       

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