quarta-feira, 9 de março de 2016

"UM POEMA"

“A GIGANA”

Nos dias de adolescência,
Sob um sol matutino
A beira mar,

Veio até mim
A cigana.
Mulher de certa idade
Vestida em traje jovial,
Estampa colorida no vestido,
Adornos nos pulsos e no pescoço.

Não era bela,
Mas seu porte austero,
Frisava o corpo feminil...

Dirigiu-se a até mim
E disse:
Leio as mãos,
Leio as cartas do tarô.
Posso ao jovem desvendar,
Os segredos do destino.

Envergava ela um chapéu,
De abas largas,
E dizendo isto
Sorriu para mim.
Entreguei minhas mãos,
E a cigana percorreu as linhas delas,
E vi no desfilar do tarô,
Meu destino exposto.

Que encanto me foi,
Não os segredos revelados,
Mas o prazer de entregar-me,
De alma desprendida,
Àquela já idosa cigana.

Falava-me ela,
Em sotaque espanhol,
E sorria às vezes...
Perscrutando em mim,
Alguma alteração no semblante.

Terminada a investida,
Em meu destino,
Findo o arriscar,
Em minha fortuna,
E meus amores,
Paguei a ela a quantia exigida.

Passeamos pela praia,
Solitários lado a lado,
Falei pouco,
Ela nenhuma palavra disse.

Perguntei-lhe o nome,
E ela respondeu: Sara.

Quando ia agradecer-lhe,
O seu feito,
Passou outro a pisar manso,
Na areia da praia.

E a cigana,
Afastando-se de mim,
Assim ao outro se ofereceu:
Leio as mãos,
Leio as cartas do tarô.

Desviou-se de meu caminho,
E sobrou em mim só,
A imagem impertinente,
Daquela figura exótica.

Quanto as suas premonições,
Que direi?
O destino é senhor de si próprio,
E as palavras da cigana,
Não se casaram ele.


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